A ditadura pelos moradores de São Miguel Paulista

Texto com uma pauta que eu criei inspirada na ideia de professores durante a graduação de jornalismo na Universidade Cruzeiro do Sul - Campus São Miguel Paulista. 

Esse texto me fez refletir muito sobre como a ditadura, para alguns, não afetou em nada, principalmente na periferia.

Ditadura: Memórias dos Trabalhadores de São Miguel Paulista 

No bairro de São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo, a memória ainda dói. Mas no bairro ainda há pessoas que não sabem o que foi e quais foram os efeitos de uma ditadura militar que durou 20 anos. Pessoas simples, que não tiveram oportunidade de estudar em uma boa escola e não se informavam direito por causa da censura que os meios de comunicação sofriam, ou pela falta de tempo que tinham, por terem que trabalhar muito. Alguns só foram saber o que estava acontecendo através de programas atuais que falam sobre o assunto. Aí vão alguns dos depoimentos que colhi aqui na região:

 
O famoso adesivo: Brasil, ame-o ou deixe-o

No tempo do "Brasil, Ame-o ou Deixei", quem não tinha carteira de trabalho ia para o camburão, operário comunista acabava morto

Francisco Santos, 53 anos, natural do Paraná, chegou em São Miguel Paulista em 1967 “Para ir a um bar precisava ter a carteira profissional assinada e o holerite do mês. Se não tivesse os militares botavam num camburão, dava voltas com a pessoa e a deixava num lugar distante de onde a encontraram. Os militares batiam na cara de qualquer um, mesmo sem motivo aparente.”

 
“Havia muitas vagas de emprego. Eu trabalhava na Metal Arte, mesma empresa que o operário Manuel Fiel Filho trabalhou. Manuel foi preso, torturado e assassinado porque era comunista e recebia o jornal Voz Operária. Ele foi morto dia 17 de janeiro de 1976. Os responsáveis disseram que ele tinha se suicidado com suas próprias meias, mas colegas de trabalho afirmam que ele estava de chinelo."

Foto de Manuel Fiel Filho

"O DOI-CODI machucava e calava. Colavam adesivos nos carros com o seguinte dizer: Brasil, ame-o ou deixe-o. Ou: Quem não vive para servir ao Brasil, não serve para viver no Brasil.” Era a publicidade do regime militar."

 
Não lia jornal e assistia pouco a TV, porque trabalhava muito
Geralda Santos, 48 anos, natural da Paraíba, chegou em São Miguel Paulista em 1980 " Eu não sabia o que era a ditadura, não senti o impacto nem testemunhei nenhuma cena. Por conta do trabalho, não lia jornal e assistia pouco a TV, porque trabalhava muito para sustentar a família".

 
Algumas pessoas que eles pegavam nunca mais eram vistas
Socorro Santos, 46 anos, natural de Pernambuco, chegou em São Miguel Paulista em 1983 "Eu me recordo que a família comentava comigo. Diziam que os militares faziam motins e que algumas pessoas que eles pegavam nunca mais eram vistas".

 
Eu tinha que andar com holerite e carteira profissional
Cintra Maia, 74 anos, natural do Ceará, chegou em São Miguel em 1967. "Lembro que tinha que andar com holerite e carteira profissional. Não sei quanto tempo isso durou."

 
Não sei o que foi a ditadura
Maria Santana, 67 anos, natural da Bahia, chegou em São Miguel Paulista em 1963 " Não sei o que foi a ditadura".

 
Qualquer um que falasse qualquer coisa ia preso
Antônio Santana, 72 anos, natural da Bahia, chegou em São Miguel Paulista em 1953 "A ditadura era o militarismo. Vi um rapaz sendo preso. Qualquer um que falasse qualquer coisa ia preso."

 
Militares usavam cavalos
Margarida Cabral, 60 anos, nasceu e ainda mora em São Miguel Paulista "Lembro que a minha mãe foi até a Praça da Sé e lá havia uma manifestação, militares usavam cavalos... não lembra o ano".

 
Foi preso porque estava sem camisa
Vanda Moraes, 59 anos, nasceu e mora em São Miguel Paulista "O meu irmão foi para um bar jogar e como estava sem camisa ele foi preso. Para soltarem ele, meus pais levaram os documentos. Por sorte o encontraram na delegacia antes de levá-lo para outro lugar".

 
Eu me casei no ano das Diretas Já
Maria Souza, 43 anos, natural da Paraíba, chegou em São Miguel em 1980 " A ditadura é o poder militar. Me lembro do movimento Diretas Já, porque foi no ano em que eu me casei, em 1984."

Não testemunhei nada
Manuel Souza, 52 anos, natural da Paraíba, chegou em São Miguel Paulista em 1975 "Não sei o que foi a ditadura e não testemunhei nada".

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